Velocidade de dobra é mais factível do que se imaginava

Se a teoria estiver correta, o primeiro desafio a vencer é descobrir como produzir "energia negativa", necessária para contrair e expandir o tecido do espaço-tempo. [Imagem: NASA]
Viagens interestelares
Um evento chamado "Espaçonave Interestelar em 100 Anos" parece ser o lugar ideal para quem quer discutir ideias mirabolantes para o futuro da exploração espacial. Mas não exatamente o lugar onde procurar ideias para colocar em prática a curto prazo. É por isso que está causando furor uma apresentação feita pelo cientista Harold White, do Centro Espacial Johnson, da NASA, durante o evento. White propôs nada menos do que um experimento de laboratório, a ser realizado nos próximos meses, para demonstrar que as viagens espaciais acima da velocidade da luz são possibilidades com um nível de "concretude" muito além do imaginado até agora - ou, também se poderia dizer, são "menos impossíveis" do que se supunha. As viagens espaciais interestelares não podem ser realizadas com as tecnologias conhecidas hoje porque as naves são lentas demais. A Voyager 1, por exemplo, que é o artefato construído pelo homem a atingir a maior distância da Terra, está a 17 horas-luz de distância, mesmo viajando continuamente desde 1977. Isso porque ela viaja a 0,006% da velocidade da luz. A Voyager levará 17.000 anos para percorrer 1 ano-luz - e a estrela mais próxima de nós, Alfa Centauri, está a 4,3 anos-luz.

Velocidade de dobra
As viagens em velocidade superluminal - acima da velocidade da luz - são comuns na ficção científica, onde são conhecidas como viagens em velocidade de dobra - ou warp - uma referência a dobras no tecido do espaço-tempo. A Teoria da Relatividade estabelece que nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz. Mas ela não impõe nenhum limite para a velocidade com que o tecido do espaço-tempo pode se contrair ou expandir. É fácil entender essa "brecha na lei": imagine duas lâmpadas, uma ao lado da outra, piscando alternadamente. A velocidade máxima com que a luz de cada uma delas chegará aos seus olhos será sempre a velocidade da luz. Mas a velocidade com que elas alternam as piscadas não tem nenhum limite. No caso da viagem em velocidade de dobra, o truque é colocar a espaçonave dentro de uma "bolha" e fazer com que o espaço-tempo à frente da bolha se contraia, expandindo-se logo atrás da bolha. A espaçonave vai literalmente surfar pelo espaço-tempo, sem nenhuma aceleração. Na verdade, em termos da velocidade da luz, a espaçonave estará totalmente parada em relação ao seu referencial, que é o seu "tapete mágico" de tecido espaçotemporal.
O conceito inicial da viagem de dobra que está sendo explorado foi proposto pelo físico mexicano Miguel Alcubierre. [Imagem: Harold White]

Energia negativa
Em 1994, o físico mexicano Miguel Alcubierre propôs um esquema para fazer isso, envolvendo um tipo de "matéria exótica", com energia negativa, que ninguém sabe se existe. Além disso, para dar a partida na bolha de dobra, a proposta de Alcubierre exigiria energia negativa equivalente à massa do Universo. O esquema foi aprimorado por outros cientistas, que chegaram a uma quantidade de energia negativa equivalente à massa de Júpiter. O que o Dr. Harold White fez agora foi redesenhar o projeto inicial de Alcubierre, que previa uma nave espacial em formato de charuto circundada por um anel feito da matéria exótica e desconhecida, que seria o responsável por contrair o espaço à frente e expandi-lo atrás da nave. Ao usar um anel de material arredondado - imagine um anel feito de um cano - White refez os cálculos e descobriu que será necessário usar apenas algumas centenas de quilogramas de energia negativa. E, embora ninguém tenha a menor ideia de em que situação essa energia negativa possa ser encontrada ou produzida, White afirma que a ideia pode ser demonstrada em laboratório, em microescala.

Dobras espaçotemporais
É o que White pretende fazer em um novo laboratório que está sendo criado pela NASA, por enquanto conhecido informalmente como Eagleworks. Ele está usando um tipo especial de interferômetro a laser, chamado Interferômetro de Campo de Dobra White-Juday, para criar versões microscópicas das dobras espaçotemporais. O equipamento tem precisão suficiente para fazer o espaço-tempo se contrair e expandir apenas uma parte em 10 milhões, mas será o suficiente para demonstrar a viabilidade do conceito. Se o experimento der certo, outros cientistas poderão se sentir encorajados a encarar os muitos problemas que ainda restarão para tornar realidade as viagens interestelares. Entre esses problemas estão o fato de que as teorias ainda não sabem como ordenar ao mecanismo de dobra espacial para onde ele deve ir - se para frente ou para trás, por exemplo - e, para onde quer que ele vá, como é que se faz para pará-lo.
Fonte: Inovação Tecnológica

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