Uma trombada cósmica

Colisão

A melhor teoria para a formação do Sistema Solar e, por extensão, de outros sistemas planetários, diz que os restos da formação do Sol acabaram se condensando para formar os planetas, o disco protoplanetário – uma fina poeira interestelar que aos poucos foi se aglutinando em corpos cada vez maiores e mais massivos, chamados de planetesimais. Esse crescimento produziu corpos do tamanho de asteroides que, pelo mesmo processo de colisão e aglutinamento, deu origem aos planetas. Assim que o Sol começou a brilhar, sua radiação acabou expulsando (ou evaporando) as partículas de gelos, tais como grão de metano, gás carbônico e até mesmo de água, os chamados materiais voláteis.

Isso resultou em planetesimais secos, que são mais difíceis de se aglutinar, pois os materiais voláteis agem como cola. Como efeito, os planetas mais próximos do Sol são pequenos e rochosos: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Nas regiões mais distantes, o material volátil foi preservado e os planetesimais cresceram mais rápido e mais facilmente. O resultado desse processo foi a formação dos planetas gigantes gasosos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Mas nem todo material do disco protoplanetário virou planeta – o que sobrou ficou na forma de asteroides e cometas, viajando pelo Sistema Solar. Viajando e trombando. Nessa época, havia muitos objetos desses soltos por aí e as colisões eram constantes.

Houve um período em que essas colisões eram muito frequentes, com asteroides monstruosos se chocando entre eles e com os planetas ainda em formação. Essa época é conhecida como o “grande bombardeio” e até já falei nele aqui no blog. As crateras que cobrem a superfície de Mercúrio e da Lua até hoje são a prova de que estas colisões realmente aconteceram. Bom, essa é a teoria. Para a nossa sorte, essas colisões são raríssimas no nosso Sistema Solar, pois já temos aí uns 4,5 bilhões de anos de vida. Mas não devem ser raras em sistemas mais novos, ainda em formação. E não é que uma equipe de astrônomos liderados por Huang Meng, um estudante de doutorado da Universidade do Arizona flagrou “ao vivo” uma colisão entre dois asteroides em outro sistema planetário?

Em um artigo publicado na revista Science nesta quinta feira dia 28, os astrônomos da equipe de Meng juntaram dados do telescópio Spitzer que mostravam variações da emissão infravermelha da estrela NGC 2547 ID8. O infravermelho é a região de emissão preferencial para se estudar a poeira, já que ela absorve a radiação da estrela e a reemite no infravermelho. Com observações diárias e o registro das variações de emissão, os astrônomos deduziram que estavam detectando na verdade o choque de asteroides gigantescos no sistema planetário da estrela ID8, que tem apenas 30 milhões de anos!

Monitorando as trombadas desde março de 2012, Meng e colaboradores perceberam que a quantidade de poeira inicialmente aumentou abruptamente, como fruto das colisões, mas foi diminuindo gradativamente ao longo do tempo. Muito provavelmente, a poeira produzida está sendo tragada pela própria estrela. Uma observação como essa é realmente impressionante, tanto por confirmar uma teoria proposta e verificada por enquanto apenas por modelos de computador, mas também por ser uma observação “ao vivo” dos processos de formação de planetas. Bom, “ao vivo” entre aspas porque a estrela está a 1.200 anos-luz de distância, ou seja, tudo isso aconteceu há 1.200 anos atrás.
Fonte: Cássio Barbosa - G1 Observatório

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